sexta-feira, 30 de abril de 2010

Brasileira tenta melhorar alemão

Depois de 4 anos morando no mesmo bairro, descobri que tem uma escola chamada "Academia Espanhola"  que também oferece aulas de alemão em um curso de integração para estrangeiros. Fui lá me informar e marquei um teste e uma entrevista com a professora para o dia 20 de abril. Apareci, mas ela não, pois estava voltando das férias numa viagem de 40 horas de ônibus devido ao vulcão islandês. Remarcaram o compromisso para terça-feira passada. Cheguei quatro minutos atrasada e pedindo desculpas mil pelo atraso. A professora chegou uns 8 minutos depois e não se desculpou, só perguntou se eu estava esperando  fazia muito tempo. 
No início da entrevista, ela me disse que eu teria duas opções de curso no período da manhã:  um para iniciantes e outro para o nível que eu já terminei. Além disso, pelo fato de não ter uma espécie de encaminhamento/autorização - Berechtigungsschein  - que me daria o direito de fazer o curso de graça, teria que pagar 200 euros por um módulo de 100 horas ( uma pechincha) e 30 euros pelo teste que faria ali na hora, o que não me agradou, já que não tinha o meu nível.
Conversa vai, conversa vem, falei sobre o porquê de querer fazer um curso intensivo a essa altura do campeonato. Disse que seria uma frustração muito grande retornar ao Brasil depois de 4 anos e meio sem conseguir ter uma conversa completa em alemão e porque teria muito interesse em enveredar pelos caminhos da minha amiga Rita, que é tradutora alemão-português ( não é inveja minha não, foi sugestão da própria). 
Qual não foi minha surpresa, quando a professora disse, "acho melhor você não fazer o teste. Seu alemão é muito bom pelo tempo em que você está aqui e o nosso curso de integração não é o ideal para você." E eu disse "muito obrigada." "Não, não estou te elogiando. É a verdade. Este curso é direcionado para estrangeiros que moram há anos na Alemanha, não trabalham porque não falam a língua direito, vivem do sistema social e nunca tiveram interesse em se integrar à sociedade alemã.. Alguns são fluentes, mas cometem muitos erros e  não são capazes de escrever nem o nome corretamente em alfabeto romano (supus ,então , que ela falava dos árabes). Eles vem para o curso porque são obrigados. Se eles não apresentarem um documento mostrando que estão interessados em aprender a língua e, desta forma, se tornarem aptos a se candidatar a um emprego, eles perdem a ajuda social.  Então, esse curso não vai satisfazer a sua necessidade, pois voce realmente tem interesse em aprender. E muitos vem às aulas só para marcar presença, alguns se comportam, outros são uma porta ( minha interpretação do que ela disse) e outros atrapalham a aula."
Eu perguntei se ela dava aulas particulares, mas ela não tem tempo disponivel. Ligou para uma amiga, que não respondeu na hora se estaria interessada em me dar aulas e que não autorizou que ela me desse o número do celular. Então, dei o meu número de telefone e estou até agora esperando a mulher entrar em contato.
Conclusão: Eu entendi tudo o que a professora disse; meu alemão não é tão péssimo como eu pensava; a professora foi sincera sem ser rude; a outra foi rude e nada direta; brasileiro pode não ser pontual, mas, às vezes, é mais pontual do que alemão; aluno que enche o saco e gente que gosta de mamar nas tetas do governo tem em qualquer lugar; e voltei à estaca zero na minha procura por um curso intensivo de alemão.  Tô tentando melhorar, mas tá difícil.   

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Passeio de Domingo - Bacharach

Bacharach - leia-se BAHAHAH - é uma cidadezinha na beira do Reno, no estado vizinho de Rheinland Pfalz - Renânia Palatina. Para chegar até lá, leva uma hora e meia aqui de casa e a viagem é linda, pois pode ser feita pela B9, que vai a maior parte do tempo beirando o Reno. Tem vários castelos no caminho, tais como: Rheinfels, Stolzenfels,  Burg Katz (atualmente, propriedade de japoneses) e Marksburg, castelo que nunca foi destruido e mantem suas caracteristicas originais. Passamos também pela "Loreley", um penhasco à beira do rio num trecho que se estreita e se curva consideravelmente, exigindo muita atenção dos barqueiros. Diz a lenda que ali ficava a ninfa/virgem/sereia "Loreley", que cantava e encantava os barqueiros, fazendo com eles não conseguissem fazer a curva, o que os levava a seu último destino. 

A cidade

Como a maioria das cidadezinhas ao longo do  Reno, Bacharach é bem típica alemã com muitas casas Enchamel e, lógico,  um castelo láaaaa no alto do morro, imponente, como se ainda a olhar pelos seus súditos: as casinhas com telhados de ardósia. Na minha santa ignorância, até vir para a Alemanha, achava que o telhado era borracha, tal a impressão de flexibilidade que tem. Só depois que o meu digníssimo marido, em sua santa paciência, disse que era pedra é que parei pra pensar que, quando essas casas foram construídas, 600, 700 anos atrás, o Brasil nem tinha sido descoberto, quanto mais o Amazonas, seringais,  exploração e vulcanização da borracha, Chico Mendes ...
Chegamos bem na hora do almoço mas resolvemos dar uma voltinha por uma viela para sacar dinheiro num dos dois bancos da cidade. Levamos três minutos até retornar à rua principal, onde fica o comércio que não abre aos domingos, como em quase todas as cidades alemãs. Até o centro de informação turística estava fechado. Ainda bem que os restaurantes, sorveterias e lojas de souvenirs não.

Altes Haus

Resolvemos almoçar no ponto turístico mais importante da cidade, a "Altes Haus" - casa antiga/velha - que teve sua construção terminada em meados de 1300. A comida não era lá grande coisa, mas ter a oportunidade de entrar num local por onde tanta história já se passou, me arrepiou. De novo, na minha santa ignorância, vendo como a casa é torta, perguntei ao meu amo e senhor se naquele tempo eles não tinham idéia de prumo. E mais uma vez, recebi o esclarecimento que a base da construção é madeira, que é uma matéria prima viva que se expande e se retrai, ainda mais numa variação de temperatura como a daqui, e que por isso pode entortar ainda mais a coisa ( só faltou ele completar com: -sua porta! Tem alguém aí pra me dizer se a explicação confere?).

Stahleck e Capela Werner

Depois do almoço típico alemão, cheio de calorias, perguntei à garçonete se o castelo no alto do morro, o "Stahleck", estava aberto à visitação. Ela disse que sim e que hoje ele é um albergue da juventude ( isso eu já sabia, então porque eu perguntei se estava aberto à visitação se os hóspedes tem que entrar? ) e que para se chegar até lá basta subir a escada ao lado da igreja, que tem uns 100 degraus. Bom, 100 degraus, pensei eu, é mole e bom pra gastar um pouco do que comi. Pois é, realmente, devia ter só uns 100 degraus... até a Capela Werner, no meio do caminho, porque a partir de lá era morro sem degrau mesmo. Bom, chegamos à Capela, que hoje tem em exposição um memorial a todos os judeus massacrados ao longo dos tempos. A vista é linda e dá pra ver como o rio Reno está baixo, formando-se ilhas em seu leito. A chegar ao castelo, entendemos porque é albergue da juventude: só sendo jovem mesmo pra subir o morro. Eu já passei da idade, paguei (uma parte dos) meus  pecados  na ida e na volta. Aliás, eu já estava grávida e só vim saber uma semana depois, talvez, por isso, o cansaço excessivo (se engana!). O castelo "Stahleck" foi destruído pelos franceses em 1689, como muitos castelos ao longo do Reno. Ele foi reconstruído logo após, mas a parte interna está toda modernizada para abrigar o albergue: uma noite para uma família com dois filhos custa 24 euros. Descemos o morro e fomos continuar a caminhada no resto da rua principal, uns 200 metros.

Lojinhas

Paramos numa loja de souvenires, onde tanto eu quanto o Amanzor, enfiamos os dois pés, e depois passamos em frente a uma loja de quadros e produtos de madeira. Uma bagunça de doer, baixou a dita aqui e eu  me deu uma puta vontade de organizar a bagunça do homem. Por uns 20 minutos, fomos os únicos fregueses na loja. O Amanzor admirou a quantidade de tabuleiros de xadrez e resolveu puxar conversa,  o homem disse que participa de campeonatos de xadrez e que ele mesmo pinta as aquarelas e faz os trabalhos em pirografia.  Conversa vai, conversa vem,  o Amanzor admirou o piano do homem, então, ele tocou uma música bem bonita pra gente naquele piano sujo e bagunçado, cheio de partituras jogadas  em cima. Ele perguntou de onde éramos e, ao falarmos de onde, ele se meteu a procurar a  partitura de "Aquarela do Brasil". O mais impressionante é que ele encontrou naquela bagunça toda. E tocou só um pedaço porque é muito rápida e difícil. Eu perguntei sobre "Tico Tico no Fubá", ele disse que essa ele nem tenta. Saímos de lá e fomos caminhar pela muralha que cerca a vila e que hoje é um caminho cheio de casas e restaurantes. Voltamos e fomos dormir.       


GEZus - TV pública paga - Já viu?

Você não pagou!

Tem-se no Brasil uma discussão constante sobre as concessões públicas de rádio e televisão para empresários, instituições e organizações privadas. Além de emissoras privadas, existem os canais de TV a cabo e via satélite e as emissoras públicas.  Mas nunca se discutiu (que eu saiba) cobrança de impostos ou taxas para manutenção dessas últimas. 
Agora, aqui na Alemanha é diferente. Todo mundo que tem um aparelho que recepciona emissões de rádio e/ou TV, incluindo-se aí celulares, computadores, rádio de carro e, se não me engano, até GPS, tem que pagar uma taxa  para uma instituição  chamada GEZ Gebühreneinzugszentrale der öffentlich-rechtlichen Rundfunkanstalten in der Bundesrepublik Deutschland (Centro coletor de taxas de emissoras públicas na República Federal da Alemanha- corrijam minha tradução, por favor). Essa instituição é uma sociedade de todas as 17 emissoras de Rádio e TV regionais do país. O dinheiro recolhido é direcionado para a produção de programas emitidos pelos membros da Gez, mas essas emissoras também são mantidas por patrocinadores, só que os  intervalos comerciais são mais curtinhos e somente entre um programa e outro, exceto a partir das 20h, quando os programans também tem intervalos comerciais.
Todo mundo tem que pagar a GEZ, exceto quem é desempregado, quem possui alguma deficiência grave,  quem vive de ajuda social ou ganham pouco, estudantes e aposentados, desde que se registrem como tal. Os pagamentos podem ser feitos trimestral, semestral ou anualmente, sendo 17,98 euros o valor correspondente a um mês por residência com aparelho de TV e to do o resto. Se você só tem rádio, paga menos. Como em qualquer lugar do mundo, nem todo mundo que deveria pagar, paga.  Eu pago e não é pouco. Este ano pagamos 215,76 euros (dinheiro suficiente pra comprar vários aparelhos de rádio).
Dizem que se você não se cadastra, existe uma checagem de novos moradores junto à prefeitura e o pessoal da GEZ vem bater na sua porta e, se você tiver algum aparelho receptor, você tem que pagar o valor referente a todo o periodo que mora no local. Eu achei melhor não correr o risco, mas tem gente que corre. Me lembrei que no Brasil tem gente que faz até "gato" pra não pagar luz elétrica, imagine se tivesse que pagar pra assistir TV ou ouvir rádio, na maioria das vezes, única fonte de diversão do povo? Seria uma novela.

sábado, 24 de abril de 2010

Bonn na guerra, melhor na paz

Apesar do blog chamar "Tudo de Bonn", eu pouco escrevi até agora sobre o centro da cidade.Eu costumo passear pouco por lá, mas na última semana fui duas vezes e, como um tempo atrás eu comprei uns livros sobre o bombardeio que a cidade sofreu em 18 de outubro de 1944(imagens que me fascinam e me chocam), fiquei imaginando como a cidade se recuperou em tão pouco tempo. Foi algo que não partiu unicamente do governo, que teve que ter a participação ativa do povo. Mas como isso se deu eu até então não sabia.
 Há dois  sábados, saímos para almoçar de novo com Herr Croll e eu disse a ele que uma das coisas que me fascinam na Alemanha é ver como o país se levantou depois da  Segunda Guerra Mundial.  Como eu sempre digo, eu não sei que apito meus vizinhos tocaram naquele tempo, mas ele é um doce, então, tendo a acreditar que ele era do bem. Ele, então, me  disse que todo mundo tinha que ajudar de alguma forma doando horas de trabalho para recuperar a cidade/país. Ele, por exemplo, ajudou na reorganização e recuperação da Biblioteca da Universidade de Bonn. Não é à toa que ele sempre recita trechos de poemas, canta trechos de músicas antigas ou normalmente tasca um teco de uma obra ou um ditado que vem sempre a calhar. O engraçado é que, da última vez que ele saiu com a gente, ele levou no bolso um papelzinho com os nossos primeiros nomes escritos. Toda vez que ele tinha que se dirigir a um de nós, ele tirava o papel do bolso, parecia um tique nervoso, coitado! Mas convenhamos, o homem tem 84 anos e teve um derrame há uns 4 meses. Depois de nos chamar tantas vezes pelo primeiro nome e depois de quatro anos morando  no mesmo  prédio, ele nos autorizou a "duzá-lo", ou seja, chamá-lo por "DU" - você -  e não mais "SIE" - senhor - e, portanto, chamá-lo pelo primeiro nome - Willi. Vai ser difícil pra gente se acostumar a chamá-lo pelo primeiro nome. É estranho toda essa formalidade, mas a gente  acaba se acostumando. Eu, até hoje, sou chamada de Frau Soffiatti por um monte de gente. Talvez eu devesse dizer pra me "duzarem", porque, afinal, sou uma  moçoila, mas quem faz as regras são eles e "em Roma eu como os romanos", como diria Millôr.
Voltando ao centro de Bonn. Fiquei imaginando, nas minhas últimas visitas, o quanto deve ter sido dura a vida das pessoas que passaram pela guerra e a força que tiveram que ter para rever valores, recuperar as suas vidas e o lugar em que vivem, coisa que muitos jovens não tem a mínima noção e nem se interessam por saber, por isso que o "novo movimento dos homis" tá com força total.
Abaixo, algumas fotos da Altes Rathaus - Antiga Prefeitura de Bonn, bem no centro da cidade ( eu juro que eu não vou fazer a piadinha da "casa dos ratos".)

                                          
      Fotos acima tiradas no começo do século passado

                                                                 Final do Século XIX
Fonte das fotos acima: Wikimidia commons

 Rathaus destruída pelo bombardeio de 1944
O predinho do lado esquerdo da prefeitura é um restaurante chamado "Em Höttche" que ainda existe e serve comida típica alemã. Sua história começa em 1389. Segundo seu site, uma bruxa foi queimada no local e Beethoven dançou com sua amada. Apesar de ter sido destruído durante o bombardeio de 18 de outubro de 1944, foi  todo restaurado e, quando se entra no local, parece uma viagem ao passado, como em muitos locais por aqui.
Toda cidade alemã tem um "Marktplatz" - a praça do mercado, uma área espaçosa como esta das fotos abaixo que era o centro da vida da cidade. Ainda hoje  ela é utilizada para esse fim. As frutas e verduras parecem bem fresquinhas e bonitas e são mais caras do que no supermercado, mas dizem que você não pode escolher os produtos você mesmo e que os vendedores acabam colocando na sacola mercadoria que não está fresca. Já vi esse filme.
Essa foto foi tirada em 1936, a praça está cheia de flâmulas nazistas para celebrar as Olímpiadas.




Este prédio não teve as duas torres restauradas depois da bomba (duas fotos acima)
Capa do livro que eu comprei sobre o bombardeio

Münsterplatz - praça da Catedral de Bonn com a Estátua de Beethoven, a danada ficou em pé no bombardeio



Universidade de Bonn, onde Willi trabalhou como voluntário na reorganização da biblioteca
Torre noroeste do prédio principal da universidade

Essa foto eu que tirei mas não sei de que torre é. Não tenho a mínima noção de ponto cardeal.
Xiiii, esqueci que tenho que ligar para o Amanzor que está lá em cima na casa do Willi tomando cerveja. Vai descer a escada rolando se eu demorar muito.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Calças sujas

Penduradas atrás da porta do quarto estavam 4 calças do Sr. Soffiatti:
"Quais delas estão sujas?", perguntei.
"Esta e esta.", disse ele.
" E você esperava que elas fossem para a máquina de lavar andando?"
"Não. Eu esperava que elas fossem trabalhar por mim."

Doe palavras

 Recebi um e-mail de uma amiga querida sobre o site www.doepalavras.com.br É um movimento para levar mensagens de força aos pacientes com câncer do Instituto Mário Penna em Minas Gerais. Você envia a sua mensagem através do site ou do Twitter e ela será exibida em aparelhos de TV do hospital.


#doepalavras from 3bits on Vimeo.

Imposto de Renda na Alemanha

Eu não tenho noção de ou paixão por economia ou finanças, só procuro entender quando o meu próprio calo aperta, o que não quer dizer que entenda. Pra mim, declarar imposto de renda no Brasil é um mistério e aqui na Alemanha ainda mais porque o legalês é em alemão. Mas não fico triste, pois vi na livraria um stand inteirinho de livros da grossura de uma Bíblia pra explicar como o imposto de 2010 funciona e como a declaração deve ser feita. Quando viemos para cá como expatriados, uma das cláusulas do contrato era ter suporte de uma empresa de consultoria  para efetuar a declaração de imposto de renda tanto no Brasil quanto aqui. O que fazemos é só fornecer o que nos pedem e eles se encarregam do resto, então não vale a pena tentar quebrar a cabeça. Mesmo assim, coloco abaixo algumas considerações não tão rápidas a respeito.
Assim como no Brasil, o imposto de renda do assalariado é retido na fonte e de empresas e do empregado autônomo é pago trimestralmente de forma antecipada, baseado em valores de anos anteriores, não sobrecarregando o bolso numa tacada só.
Agora, diferente do Brasil são as alíquotas. Reclamamos de pagar imposto segundo a tabela abaixo:

Tabela Progressiva para o cálculo mensal do Imposto de Renda de Pessoa Física para o exercício de 2010, ano-calendário de 2009.

Base de cálculo mensal em R$

Alíquota %

Parcela a deduzir do imposto em R$
Até 1.434,59
-

-
De 1.434,60 até 2.150,00
7,5

107,59
De 2.150,01 até 2.866,70
15,0

268,84
De 2.866,71 até 3.582,00
22,5

483,84
Acima de 3.582,00
27,5

662,94


Já na Alemanha a tabela é anual  e  é essa aqui.  

Income Tax

Progressive Taxation:

Single person/married person:

up to 8.044/16.008 euros :       tax-free
from 8.005/16.009 euros:        14% a 24%
from 52..882/105.764 euros:   24 a 42%
from 250.731/501.462 euros:  42 a 45%


E, pra visualizar melhor, vamos por no gráfico.


Dentro da minha capacidade contabilistica de compreensão de tabelas, alíquotas e gráficos, eu entendo que começa-se a pagar imposto na Alemanha a partir de 667 euros mensais. No entanto, ao jogar este valor como salário bruto mensal (8005 euros divididos por 12) neste site de cálculos de salários, ele diz que não há impostos a pagar. São os mistérios da contabilidade que uma pobre mortal não consegue entender. Outra informação que "captei" é que a alíquota máxima de desconto pode chegar a 45% e sendo o contribuinte  casado e com filhos, os descontos diminuem. Já no Brasil, paga-se  IRRF a partir de 1434,59 reais e a alíquota máxima é 27,5%, não importando se se tem burro amarrado ou  se o burro tem cria. Na minha análise, os ricos no Brasil reclamam de barriga cheia ( já viu rico de barriga vazia? Só quando está fazendo  dieta), pois nunca vão pagar mais do que 27,5%.
Outra diferença gritante é o que é descontado em folha de pagamento. No Brasil, temos INSS, IRRF e Assistência Médica Privada, quando a empresa tem uma. Só isso. E tem gente que já acha muito. Agora, abaixo vai a lista de descontos básicos em folha aqui na Alemanha:

Desconto correspondente ao IRRF :
  • Lohnsteuer - conforme tabela acima
Descontos correspondentes ao nosso INSS:
  • Rentenversicherung - é a nossa previdência social , de onde sai a aposentadoria.
  • Arbeitslosenversicherung - é parecido com o  nosso seguro desemprego, só que, no Brasil, os empregados não pagam por isso.
  • Pflegeversicherung - é parecido com o nosso auxílio doença, que pra nós já está incluído no valor descontado do INSS
Desconto correspondente à Assistência Médica:
  • Krankenversicherung - na Alemanha é obrigatório ter um plano de saúde seja ele público ou privado. É isso aí, não existe "SUS". Os serviços de saúde são mantidos por um sistema que é pago pelo usuário. Além de pagar impostos, temos que pagar separadamente por um plano de saúde.
 Desconto que nunca vimos no Brasil:
  • Solidaritätzuschlag - desde a reunificação da Alemanha, criou-se este imposto com intuito de ajudar a levantar a Alemanha Oriental.
  • Kirchensteuer - é o dízimo obrigatório. Se você declara que é católico ou evangélico ou judeu, uma porcentagem do seu salário (que não é 10%) é descontada e encaminhada para a sua igreja. Vale lembrar que as igrejas aqui tem que mostrar serviço e tem certas obrigações sociais (escolas, orfanatos, asilos etc)
Esses são impostos e descontos de renda que constam na folha do marido. Se alguém tem mais algum outro ou menos, me diga. Outro imposto que pesa no bolso é o "Mehrwertsteuer"(MwSt), imposto sobre mercadorias e serviços, que é ou 7% ou 19%. No Brasil, esses impostos são o ISS e o ICMS.

Realidades diferentes, culturas diferentes, povos diferentes, histórias diferentes. 
 
Depois de toda essa comparação, alguém pode  dizer que não dá pra comparar países tão diferentes.  Podem dizer que a Alemanha tem milhares de anos e o Brasil só 500 e poucos; que o Brasil é muito maior territorial e demograficamente; que a mentalidade dos políticos é diferente; que há menos corrupção; que o povo é mais evoluído; e que, por tudo isso, as coisas funcionam.  Aqui também tem gente corrupta, a diferença é que todos os poderes - legislativo, executivo e judiciário -  funcionam. Os eventos com maior peso social, econômico e político na vida dos cidadãos alemães de hoje aconteceram de 200 anos para cá. Como fazer para que um país, um povo, sejam mais evoluídos e percebam a necessidade de se doar pra receber? Passando por governos desastrosos, catástrofes e momentos de dor e tendo que dar sua contribuição para o país se levantar? Jogar uma bomba, destruir tudo e ter que começar do zero? Talvez não seja a solução, vide Haiti.
Tudo depende de uma engrenagem e aqui ela é bem besuntada. Não é função unicamente do governo fazer com que um país progrida.  O progresso começa com cada um cumprindo seu dever direito. E de um lado, é pagando os impostos e fiscalizando e, de outro, é revertendo essa verba em beneficio da populacao em geral.  Na Alemanha, "em geral"  significa inclusive os milhões de estrangeiros, como eu, que estão morando aqui e que pagam impostos ou não. Alguém reclama? Sim, é claro que reclama, e também sonega. Só que dá um grande peso na consciência não pensar no bem estar social e  não reconhecer que cabe a cada um uma parcela, principalmente porque se vê o resultado do uso do dinheiro  - e também, é lógico, porque mais cedo ou mais tarde vai ter que pagar por isso de uma forma ou de outra. 
 Muitos podem achar incompetente a forma como somos governados no Brasil, ou quem nos governa,  e  como são injustas algumas leis que foram criadas em tempos que não correspondem mais à nossa realidade. Mas como diz o ditado, cada povo tem o governo  e as leis que merece. E o que temos que fazer pra mudar o que merecemos? Fico pensando o que aconteceria se o governo brasileiro hoje, nas mãos do atual presidente,  resolvesse seguir o exemplo da Alemanha e cobrar impostos da forma como ela faz e  fazer pelo social o que a Alemanha faz e que não é pouco - a saber: moradia,  escola, transporte, saúde e ajuda de custo mensal*. Ou teriamos uma revolução social ou o início de uma guerra interna entre classes, pois os ricos iriam dizer que estão pagando pelos vagabundos que recebem bolsa família, vale gás, moradia gratuita, auxílio-escola, auxílio-criança, auxílio-paternidade... Com tudo isso, ninguém mais vai querer saber de trabalhar! E o trabalho nos torna livres ("Arbeit macht frei", era o tema dos campos de concentração nazistas). 
Nosso povo, principalmente a elite,é um bebê engatinhando que só olha pro próprio umbigo e não sabe o que é bem estar comum. Já estamos no século XXI e essa elite ainda acha que só quem manda, quem impera, quem governa, quem tem dinheiro tem direito  a parte maior que lhe cabe desse latifúndio. E ela também pensa que quem lutou contra a ditadura é terrorista. Pronto, falei.

*Eu acho que não ficou claro quando eu disse o que a Alemanha faz pelo social. As pessoas desempregadas ou que não trabalham (existe uma diferença) e que, portanto, não pagam impostos, tem ajuda completa do governo pra viver.   É o chamado "viver do social". No Brasil, o bolsa-família tá dando pano pra manga, imagine se fosse adotado o sistema daqui?

domingo, 18 de abril de 2010

Passeio de Domingo - Vulkan Express

Como vulcão é o assunto da semana ao deixar na mão todo mundo que depende de alta tecnologia para se locomover, decidimos passear de Maria Fumaça. À meia hora daqui de casa, tem um passeio que dura umas quatro horas e que vai de lugar algum a lugar nenhum, isto é, o destino é a viagem em si e é lindo por seu meio e não seu fim. O Vulkan Express sai de Brohl e vai até Engels, região vulcânica, cheia de fazendas, vales, riachos e vilarejos com casas lindas. A velocidade não passa dos 20 km/h, o que nos permite curtir a paisagem e tirar bastante foto.
No caminho, tive tempo demais pra pensar em um monte de coisa que na correria da vida passa despercebido. Pensei, por exemplo, na correria da vida (dã) e o papel da máquina a vapor nisso. Esse trem revolucionou a sociedade há uns 200 anos! Ele  desenvolveu a indústria, acelerou o progresso  e mudou a noção de locomoção e  velocidade. Hoje ele faz a mesma coisa, só que ao inverso. Acostumados com tudo em alta velocidade - fast food, internet banda larga, avião  supersônico,  trens de alta velocidade - tudo ao alcance da mão, ao entrar em um trem desses, com seus bancos de madeira, com um certo conforto mas sem banheiro, temos que desacelerar nossa ansiedade e até pensar devagar. Uma vez dentro dele, não tem o que se fazer a não ser relaxar, observar a vida lá fora e até reaprender a controlar a urgência de saciar nossas necessidades básicas.
O vulcão islandês de nome impronunciável fez com que todos em território europeu repensassem sua dependência e sede de velocidade para  se estar em lugares tão distantes em curtos espaços de tempo. E eu e minha família, em vez de passarmos pelo inconveniente de forma imposta já que não tínhamos nenhuma viagem aérea marcada, resolvemos por conta própria sentir o gostinho de, como nos velhos tempos, irmos a lugares tão perto em um espaço longo de tempo.  Antes voltar ao passado, ao início, às raízes do que às cinzas que é o que vai acontecer a hora que, literalmente, toda essa poeira baixar. Depois desse passeio, estou só o pó, mas valeu a pena.   

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Física na Véia

Física na Veia  foi o ganhador de melhor weblog em Português no "The Bobs - The Best of Blogs". Parabéns para o Professor Dulcídio.  Enquanto isso,  euzinha aqui  vou por em prática  a mecânica dos fluídos, experimentar a transmissão de calor, ver como funciona a termodinâmica, provar que gosto é uma questão da teoria da Relatividade e que ninguém é nêutron na vida. Tudo isso com a barriga encostada no fogão. Taca Física na Véia. 

O imposto e a morte

"Nothing is certain but death and taxes" (Nada é garantido, só a morte e os impostos). Ninguém melhor pra dizer isso do que Benjamin Franklin que foi político e soltou uma pipa em plena tempestade de relâmpagos pra dar à luz a eletricidade.
Pra morrer basta estar vivo e contra a  morte não há o que se fazer. Não podemos sonegá-la, mas só negá-la até que ela bata à nossa porta. Já com impostos, é outra estória. Basta  ser vivo, se achar esperto,  pra se dar um jeitinho. Negamo-los e sonegamo-los três vezes até sua inevitabilidade. E o que me deixa em choque e bivoltada é como o povo reclama de ter que pagá-los.
O povo a que me refiro não é o "povão" que vive pra comer e que come pra viver e que nem tem noção que  um bom teco do seu pãozinho de cada dia é devorado pelo imposto. Falo do povo formado por cidadãos que tem um emprego ou são empregadores e que ganham acima da faixa salarial isenta de imposto de renda. Estes, normalmente, têm um plano de saúde (não usam o SUS),  têm carro (não usam transporte público e pagam IPVA), têm filhos em escolas particulares (não frequentam escolas públicas), moram  em casa própria ou  em casa alugada  com água e esgoto, coleta de lixo e outros serviços públicos prestados porque alguém pagou imposto de renda e IPTU.
Por mais paradoxo que seja, é o  "povão" que precisa que os impostos sejam efetivamente pagos para poder contar com os insuficientes e mal providos serviços públicos gratuitos. Serviços esses  que aqueles que ganham mais - portanto, os que na teoria tem que pagar imposto de renda - não usam. E por não usá-los, reclamam que não deveriam pagar tanto imposto de renda, que é injusto, que é um roubo pagar pelo outro que não trabalha "porque não quer" não porque não teve acesso à uma educação que o qualificaria a um trabalho mais bem pago,  passando também a ser contribuinte.
Como empregado registrado, não há como fugir do Leão. O bicho abocanha sua parte antes mesmo do dinheiro vir para a carteira. No entanto, esse tipo de "contribuinte" logo dá um jeitinho de conseguir o máximo possível de notas frias para que se paguem menos impostos ou  para que haja restituição quando da declaração. Já como empresários, empregados autônomos, prestadores de serviços, freelancers e afins  o jeito é  achar uma saída de burlar o pagamento integral do imposto devido. Faz-se isso basicamente não emitindo notas ou recibos; optando por  receber pagamento  em dinheiro pra não deixar rastros fiscais;  trabalhando ou contratando sem registro, no preto ( Schwarzarbeit) como se diz aqui na Alemanha . Não raramente,  acaba-se pagando alguém para maquiar a declaração (qual o nexo?). "Afinal, pagar imposto pra quê? O dinheiro vai ser roubado lá no fim do caminho mesmo e nunca vai chegar ao seu ponto final, serviços públicos que eu não uso mesmo!" 
E daí, para aliviarmos o peso do não cumprimento da nossa responsabilidade na engrenagem de funcionamento da sociedade, jogamos a culpa do nosso ato no excesso de tipos de impostos sobrepostos; nas  porcentagens "injustas" da tabela de desconto; no cabide de empregos do funcionalismo público;  nos governantes e servidores públicos corruptos que desviam verbas lá na outra ponta. Como bons "impostores", reclamamos sem atinar que, ao sonegar, já demos um jeitinho de desviar verbas na ponta de cá. Esse cinismo  me dá vontade de morrer. Não, morrer, não, porque da morte não tem como se eximir. Acho que me deu vontade de ir ali pagar um impostinho.
Bom, isso tudo como introdução para um futuro post sobre Imposto de Renda na Alemanha.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Nó Suíno

Continuando no tema do último post sobre interpretar o que o "artista" quis dizer com sua obra.
A minha querida amiga Ana Cláudia enviou um link com o hino nacional brasileiro estilizado. Ao assisti-lo e também aos outros videos relacionados, principalmente o da bateria da Mangueira, me arrepiei. Na minha época de ensino primário e médio, em plena ditadura militar, uma vez por semana, tínhamos que hastear a bandeira enquanto  cantávamos o  hino. Não podíamos nem olhar para os lados e tínhamos que ficar parados igual a um dois de paus (nunca entendi essa expressão), com a mão no peito. Depois, levávamos um exemplar menor do "símbalo" nacional para dentro da sala de aula, com um respeito como quem leva um caixão à última morada. 
Naquele tempo e até pouco tempo atrás, era proibido o canto do hino nacional se não fosse em sua versão original, de pé, com uma mão no peito ou braços soltos ao longo do corpo. Acho que foi nas Diretas, Já, com Fafá de Belém (do Pará), que a liberdade que se queria se refletiu nas formas de cantar o hino,  que tem a letra e a melodia mais lindas que já ouvi em um hino - apesar da inversão maluca, digo poética,  da primeira frase, que me lembra muito a língua alemã:
"Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
de um povo heróico o brado retumbante."
As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico.
Somada à beleza do nosso hino, temos a beleza da nossa bandeira.  Suas formas fogem ao esquema de três barras coloridas, horizontais ou verticais de tantas outras. O significado de cada uma de suas cores tem tudo a ver, mesmo que não seja o significado previsto originalmente: as cores verde e amarelo eram associadas à casa real de Bragança, da qual fazia parte o imperador D. Pedro I, e à casa real dos Habsburg, à qual pertencia a imperatriz D. Leopoldina.  Nosso pendão, com o perdão da palavra, não tem preto ou vermelho, cores que  remontam à guerra e tempos tristes. Fiquei boquiaberta quando descobri que a estrela sozinha acima da faixa não é o Distrito Federal e sim o Pará (será que eu sou a única que achava isso?), Estado com maior parte do território acima do Equador, e que o globo azul  é  um retrato do céu na manhã do dia 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro - dia da Proclamação da República, - com a representação do Cruzeiro do Sul, e que o lema "Ordem e Progresso" (guardados os significados históricos e filosóficos do Positivismo) se remete à expressão "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". Não é lindo?
Não sou patriota extremista de defender o Brasil com unhas e dentes, mas estando longe,  ao analisar a letra e ao sentir as variações rítmicas da versão original e dos tantos ritmos regionais e musicais de suas adaptações e ver que a nossa bandeira tem tanto a dizer, senti aquele orgulho de ser brasileiro que tanta gente fala e sem querer me peguei com a mão no peito.


Bateria da mangueira:



Agora compare. Não quero dizer que um é mais bonito que o outro, mas diferente. Não seria o rítmo e a letra uma analogia à personalidade do povo? Diz aí.


Alguns links interessantes:

Interpretação da bandeira nacional

terça-feira, 13 de abril de 2010

The Bobs - The Best of Blogs - escolha do júri

Como vocês sabem, o Tudo de Bonn foi indicado para a categoria "Melhor Weblog em Português" do The Bobs - The Best of Blogs da Deutsche Welle. Hoje e amanhã, o juri se reúne em Berlim para a escolha do vencedor, na votação do júri (dãã), em cada uma das 17 categorias. No twitter, tem fotos da sala de reunião do júri, para os curiosos(eu). No dia 15, os vencedores serão divulgados durante a conferência Re:publica 2010, em Berlim. Ich drucke die Daumen.
Na votação dos usuários, que é aberta, o Tudo de Bonn não será o vencedor, mas está em quinto lugar, o que pra mim já é uma grande vitória.O público pode votar até amanhã neste link aqui , basta descer rolando até "Melhor Weblog em Português", clicar no Tudo de Bonn e votar.
Nunca imaginei que o blog fosse tão longe e tão rápido. E nunca escrevi um texto tão curtinho com tantos links. Aliás, "links", em alemão, quer dizer esquerdo ou à esquerda. E eu sou canhota. Ihhhh, tô viajando.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Imagem X palavra - O que o "artista" quis dizer.

No post anterior, coloquei algumas fotos minhas pro povo "interpretar".  De fato, eu só percebi as cores quando descarreguei as fotos no computador. Com base nos comentários e no que eu quis dizer com as fotos, aí vai:




A Frau (senhora em alemão) Soffiatti, que é brasileira ( cores verde, amarela, azul e branca - da pele pálida devido ao inverno rigoroso deste ano ), em seu jardim na Alemanha (cores da bandeira  alemã : vermelho,amarelo e preto), quer mostrar que a primavera finalmente chegou. Doeu, né?
Uma amiga australiana acrescentou em um comentário no Facebook: "You look great in this foto, Arlete". E espero que ela não tenha querido dizer que eu pareço grande.

Agora, o que me levou a pedir a interpretação de vocês, em vez de já dizer na bucha ?

Primeiro, queria ver quantos comentários eu receberia. Pois é. A gente vicia nesse troço e fica super decepcionada quando não recebe comentários. Segundo, porque eu lembrei de uma anedota que uma amiga portuguesa, que é pintora, me contou,  em que dois seres estão numa galeria olhando para um quadro e tentando interpretar o que o artista quis dizer:
- As cores desta pintura remontam ao sol. Mas não temos como dizer se é do sol poente ou nascente.
- Ah, com certeza, é do sol poente.
- Como com certeza? Não tem como saber.
-É que eu conheço o gajo e ele nunca acorda antes das 11 da manhã.

E isso me leva ao Kunstmuseum Bonn - Museu de Arte de Bonn. O Kunstmuseum é um dos museus que fazem parte do Museumsmeile - milha dos museus -  uma rua onde tem cinco museus dos mais variados (cinco) tipos. Fomos visitá-lo um dia desses para ver a exposição do James Cook e aproveitamos para dar uma olhada em sua coleção permanente. Adoro o trabalho do Augusto Macke, nascido e " morrido" em Bonn e fiquei um bom tempo "admirando" o seu trabalho, já que é praticamente desnecessário interpretá-lo e sim curti-lo.
 August Macke, Seiltänzer, 1914

Em uma outra ala do museu estava a coleção de arte moderna. Aí, eu me perdi. Tentei analisar, interpretar, mas no final acabei foi dando gargalhada, pois tentei interpretar o interruptor (porque a explicação do quadro completamente em branco ao lado estava bem em cima) e ignorei uma vassoura e uma pá encostada na parede, que, isso sim, era a "obra de arte". Também tinha um terno de feltro e uma tomada enfiada num limão.

Pesquisando sobre o "cara" - Joseph Beuys - cai num site da Tate Gallery que tem um workshop sobre o trabalho do homem. Soube que ele era alemão e "acreditava na criatividade humana como uma força positiva para a mudança social e na importância de uma educação democrática". Ele também acreditava, segundo o site acima, que " 'todo mundo é um artista', frase esta que usava para mostrar sua crença no papel central da criatividade na vida de todo mundo e não só na daqueles que tinham estudado arte. Isto estava ligado a sua ampla política democrática e a seu ativismo ecológico". Daí uma tomada enfiada num limão?
Levando em conta suas próprias palavras, consegui entender por que o consideram um artista e não tenho como não concordar que todo mundo é um artista, inclusive ao tentar interpretar uma obra de arte. Para fazê-lo, muitas vezes, temos que ser criativos, verborrágicos e dar uma boa viajada no creme frâiche. Aprendi nessa viagem cultural ao museu (e na internet para escrever este post) que, quando se quer tirar água de pedra, se consegue. Em termos de arte, eu sou leiga, mas vou te dizer, tem cada coisa que chamam de arte hoje em dia...

domingo, 11 de abril de 2010

Imagem X palavra

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras. Mas, como diz o Ziraldo, tente dizer isso sem palavras.Pois é. O que as imagens abaixo te dizem? Só não vale dizer que a Arlete tá gorda.

sábado, 10 de abril de 2010

Nade como Adão e Eva

Daqui a algumas semanas, quando começar a esquentar um pouco mais, terá início a temporada das piscinas públicas a céu aberto. Por enquanto, somente as cobertas estão a todo vapor (literalmente). E muitas são mantidas pela prefeitura. Uma delas é a que fica bem no centro de Bad Godesberg, chamada Kurfürstenbad - Banho dos Príncipes. Agora, qual não foi minha surpresa quando, procurando algo pra fazer amanhã, me deparei com o seguinte evento, no jornal General Anzeiger de Bonn:
TitelHüllenlos schwimmen im Kurfürstenbad
RubrikEt Cetera
GebietBonn
OrtKurfürstenbad, Kurfürstenallee 7a, Bonn
Datum11. April 2010
Uhrzeit13 bis 17 Uhr
InfosZum wiederholten Mal textilfreie Zone: schwimmen und saunen wie Adam und Eva (Regulär jeden ersten Sonntag im Monat für jeweils vier Stunden).
Preis3 € Erw. / Sauna: 9,20 € Erw.

Numa tradução minha "Nadando Nu em Pêlo no Kurfürstenbad". No item infos: "zona livre de panos. Nade e use a sauna como Adam e Eva". Este evento acontece sempre no primeiro domingo de cada mês. Nos anos anteriores as mulheres ganharam uma maçã na entrada. Quem será que leva a cobra? Hahaha. No Brasil, isso ia ser a verdadeira zona livre. 
Mais informação aqui.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Bom Censo

A partir de agosto de 2010 está previsto o recenseamento em todo o território brasileiro. Em 4 meses, poderemos ter uma idéia aproximada de como trabalha, estuda, ganha, consome, cresce, vive e morre a população brasileira. Serão contratadas, temporariamente, 230 mil pessoas para ocuparem as várias funções necessárias para que o Censo aconteça. Nos Estados Unidos, o Censo 2010 já está em seus últimos dias.

E aqui na Alemanha?

Segundo o site oficial do instituto alemão de estatística - o  Statistisches Bundesamt Deutschland - a Alemanha irá participar do Censo populacional da União Européia previsto para 2011. A Alemanha precisa de um novo recenseamento porque os dados populacionais e habitacionais disponíveis atualmente são baseados nas atualizações dos últimos censos que aconteceram na ex- República Federal da Alemanha (Alemanha não comunista) em 1987 e na ex-República Democrática Alemã (Alemanha comunista) em 1981. Após essas datas, devido à reunificação da Alemanha, o censo previsto para 1991 não aconteceu e nenhum outro até então. Em 2006, o governo federal alemão adotou o princípio básico de que o Censo se baseará em registros administrativos. Essa decisão assegura a produção de resultados confiáveis, ao mesmo tempo envolverá cargas menores para os contribuintes e será conduzido com custos mínimos, pois somente os  prédios e habitações que não possuam registros serão pesquisados por correio. Questões relacionadas com educação, treinamento e trabalhadores autônomos serão encaminhadas, por correio, somente para uma pequena parte dos cidadãos que representa uma amostra significativa da população. Ou seja, não será contratada nem uma alminha sequer para fazer pesquisa de porta em porta.

Que registros administrativos são esses?

Toda e qualquer pessoa que vive na Alemanha ou que venha para ficar mais de três meses - tempo permitido como turista - tem que se registrar na prefeitura da cidade em que pretende se estabelecer. Eles possuem todos os seus dados fiscais, financeiros, residenciais e familiares. Alguns podem considerar que isso é uma forma de controle governamental sobre o cidadão. Ao meu ver, é uma forma de administrar melhor a cidade e os serviços  que devem ser prestados aos seus habitantes. Sabendo-se quantas pessoas habitam a cidade, quantos crianças e suas idades, como se vive, quais bens tem-se em casa, quanto se ganha ou se paga, quantas empresas existem e quantos funcionários empregam, é possível fazer orçamentos municipais, estaduais e até federais mais justos e adaptados às necessidades da população; saber quem precisa ir para escola e onde elas são mais necessárias; quanto você deve pagar de imposto sobre sua casa e seu carro e onde e como esses impostos devem ser investidos; ou se você precisa de ajuda do governo para se manter através do sistema social alemão. 
Ao se registrar na prefeitura, não existe jeito de não pagar impostos, nem mesmo de não pagar serviços prestados por terceiros. Quando você contrata um serviço, seja para consertar as janelas de sua casa, seja um curso de línguas, uma consulta a um advogado ou médico particular, você não precisa pagar imediatamente. Eles encaminham a fatura pelo correio e você tem até quatorze dias para pagar. E se não pagar? Tá frito. Existe todo um sistema de controle. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. É o Grande Irmão? É o povo sob o jugo injusto do governo? Não. É puro bom senso. 
Quanto será que o governo brasileiro irá gastar para realizar o censo em 2010? Quando se tem que trabalhar com dinheiro para efetuar pagamentos ou para executar um trabalho, abrem-se as possibilidades de corrupção e desvios de verbas. E aí vira uma bola de neve em alta velocidade morro abaixo que parece ser sempre maior e mais rápida em países pobres tropicais onde nunca neva.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Eu e meu amigo urso

Todo mundo teve (porque se ainda tem é porque merece) um amigo urso. Aquele amigo fofinho, aconchegante que nos abre os braços quando precisamos, mas que depois nos crava as unhas nas costas e nos arranca a cabeça; ou aquele que simplesmente nos puxa o tapete ou nos põe em maus lençóis por pura burrice, ingenuidade, imprudência ou incapacidade de guardar um segredo. Os meus abaixo são inofensivos e não menos fofos, apesar do tamanho.

E qual a origem do termo "amigo urso"? Dizem que vem de uma fábula de La Fontaine. Abaixo, uma versão em prosa, em português, e uma versão em poesia, em inglês:

O solitário e o seu urso.

Um homem que no lidar da vida muito tinha que se queixar dos outros homens, reconhecendo os falsos, egoístas, mal agradecidos, tornou-se misantropo e, renunciando à sociedade, fora embrenhar-se em um ermo. Aí vivia solitário, tendo por companheiro um urso que domesticara. No urso, havia concentrado todas as suas afeições e cumpre confessar que lhe eram retribuídas. Quem os visse brincar juntos diria que era uma parelha de ursos. Um dia de verão, o solitário vencido pelo calor e pelo aborrecimento, adormeceu; o urso pôs-se a vigiar que nada viesse incomodar o seu amigo, que nada o acordasse. Uma mosca foi pousar nos beiços do homem, o urso procurou enxotá-la; como porém nada conseguisse por bons modos, pois a mosca ia-se e logo voltava, agarrou o bruto em uma pedra e atirou-lha quando estava pousada na cabeça do seu amigo. Matou-a, mas também o pobre misantropo foi-se desta para melhor, sem que lhe valesse o pranto do urso, arrependido da sua imprudência.
MORAL DA ESTÓRIA: Nada mais perigoso que um amigo imprudente; antes mil vezes um discreto inimigo.


The Bear and the Amateur Gardener

A certain mountain bear, unlicked and rude,
By fate confined within a lonely wood,
A new Bellerophon, whose life,
Knew neither comrade, friend, nor wife,
Became insane; for reason, as we term it,
Dwells never long with any hermit.
It's good to mix in good society,
Obeying rules of due propriety;
And better yet to be alone;
But both are ills when overdone.*
No animal had business where
All grimly dwelt our hermit bear;
Hence, bearish as he was, he grew
Heart-sick, and longed for something new.
While he to sadness was addicted,
An aged man, not far from there,
Was by the same disease afflicted.
A garden was his favourite care,—
Sweet Flora's priesthood, light and fair,
And eke Pomona's—ripe and red
The presents that her fingers shed.
These two employments, true, are sweet
When made so by some friend discreet.
The gardens, gaily as they look,
Talk not, (except in this my book;)
So, tiring of the deaf and dumb,
Our man one morning left his home
Some company to seek,
That had the power to speak.—
The bear, with thoughts the same,
Down from his mountain came;
And in a solitary place,
They met each other, face to face.
It would have made the boldest tremble;
What did our man? To play the Gascon
The safest seemed. He put the mask on,
His fear contriving to dissemble.
The bear, unused to compliment,
Growled bluntly, but with good intent,
"Come home with me." The man replied:
"Sir Bear, my lodgings, nearer by,
In yonder garden you may spy,
Where, if you'll honour me the while,
We'll break our fast in rural style.
I have fruits and milk,—unworthy fare,
It may be, for a wealthy bear;
But then I offer what I have."
The bear accepts, with visage grave,
But not unpleased; and on their way,
They grow familiar, friendly, gay.
Arrived, you see them, side by side,
As if their friendship had been tried.
To a companion so absurd,
Blank solitude were well preferred,
Yet, as the bear scarce spoke a word,
The man was left quite at his leisure
To trim his garden at his pleasure.
Sir Bruin hunted—always brought
His friend whatever game he caught;
But chiefly aimed at driving flies—
Those hold and shameless parasites,
That vex us with their ceaseless bites—
From off our gardener's face and eyes.
One day, while, stretched on the ground
The old man lay, in sleep profound,
A fly that buzz'd around his nose,—
And bit it sometimes, I suppose,—
Put Bruin sadly to his trumps.
At last, determined, up he jumps;
"I'll stop your noisy buzzing now,"
Says he; "I know precisely how."
No sooner said than done.
He seized a paving-stone;
And by his modus operandi
Did both the fly and man die. A foolish friend may cause more woe
Than could, indeed, the wisest foe.

* Gostei dessa parte

Berlin até que enfim!

Depois de quatro anos morando aqui, resolvemos visitar a capital no feriado prolongado de Páscoa. Ao comentar com o vizinho que íamos conhecer Berlim, ele disse: -"Ah, vocês vão ficar lá um mês no mínimo, não é? Ele tinha razão. Quatro dias foi só para dar o gostinho da cidade. Quem leu meus posts sobre Paris pôde sentir como fiquei decepcionada com a capital francesa e por isso protelamos conhecer Berlim . Mas foi completamente diferente.
A primavera ainda não chegou por aqueles lados, talvez porque o inverno lá seja mais rigoroso do que em Bonn. As árvores ainda não ganharam o "neue grün" - verde novo - e nem o colorido das flores está saltando aos olhos, mas a história que emana de suas ruas pintam a cidade de cores vibrantes, apesar da cidade inteira parecer um canteiro de obras.
Havia dezenas de monumentos e prédios sendo restaurados e reformados, dezenas de construções e até escavações. O choque harmônico entre o velho e antigo e o novo e moderno é intrigante. Tudo é grandioso: ruas largas, prédios enormes, esculturas, monumentos, história, história, história. Não vou entrar em detalhes sobre a cidade, mas falar sobre a minha experiência nos quatro dias que passamos por lá e que me deixaram com vontade de voltar.
Resolvemos ir de avião para ganhar tempo, não cansar tanto e não gastar tanto - o que parece uma contradição se levarmos em conta o preço da passagem, mas tempo é dinheiro. A viagem de avião leva ao todo, porta à porta, quatro horas, mais gastos com transfers; de carro, com criança, mais de seis horas, gasto com gasolina e estacionamentos ( mais caros do que o transfer), desgaste do carro e da motorista que vos escreve; e de trem, no feriado, a passagem estava mais cara do que de avião, além de ser mais demorada e desconfortável. Saímos de casa às 12h30 com airport transfer, o avião decolou às 14h20 e, depois de uma hora de vôo, chegamos em um dos dois aeroportos da cidade: Schönenfeld. Lá compramos o Berlin Welcome Card (BWC) enquanto esperávamos o transfer até o hotel (quem disse que alemão é sempre pontual?). Com este cartão, pode-se circular em todos os meios de transporte e ele ainda dá descontos de no mínimo 25% em atrações e restaurantes em Berlim e  Potsdam. Além disso, não se perde tempo comprando passagens nem procurando o caminho mais adequado para se gastar menos - lembrando que, por ser feriado, a cidade estava abarrotada de gente. Poderíamos usar o cartão para ir do aeroporto até o hotel com transporte público, mas demoraria muito. Por isso, e por que taxí é bem mais caro, reservamos o transfer.
Tivemos a sorte de pegar um motorista que funcionou como guia turístico. Ele ía contando a história dos pontos pelos quais passávamos e já deu pra ter uma idéia de onde ir logo que chegamos ao hotel. Fizemos reserva no NH Berlin Mitte, pois fica bem no centro perto do Checkpoint Charlie e com isso ganhamos tempo. É um hotel quatro estrelas e tivemos sorte de pegar uma diária inferior a de hóteis desconhecidos de três estrelas, com café da manhã incluído, um set inteiro do minibar de graça, late checkout e restaurante no local. Quatro preocupações a menos: onde tomar café, se segurar pra não consumir os produtos caros do minibar, onde ficar até ter que ir para o aeroporto no meio da tarde e onde jantar depois de andar pra caramba e estar verde de fome. Aliás, comemos super bem. Prima!!!
Deixamos as malas no hotel e fomos passear nas redondezas. Andamos até a Potsdamer Platz, de lá pegamos o ônibus 200 e fomos até a estação do Zoo e de lá pegamos o ônibus 100. Estas duas linhas de ônibus normal funcionam como sightseeing tour. Elas passam pelos principais pontos turísticos da cidade e os ônibus são double decker. Descemos próximo ao Brandenburg Tor e andamos pela Unter den Linden até o hotel. Prático. Por onde andávamos tinha o urso (Bär, em alemão, pronuncia-se Bér, de Berlim) símbolo da cidade, com designs variados. A Lara adorou e eu também.
No sábado, resolvemos comprar os tickets com desconto do sightseeing tour hop on/hop off da BBS no próprio hotel. Desnecessário. Andamos até o Checkpoint Charlie, dali até a exposição a céu aberto "Topografia do Terror", na área onde foi o quartel general da Gestapo e da SS durante a Segunda Guerra e onde ainda tem um pedaço do muro de Berlim mas em péssimo estado devido à ação dos caçados de souvenirs, os chamados "pica-muros"(wall-peckers). Andamos até a Potsdamer Platz para pegar o ônibus do sightseeing e de lá só descemos na Ilha dos Museus, pois eu queria ir ao museu da DDR. Ele estava lotado e achamos melhor não entrar. Fomos até o Sealife pra fazer um passeio pra Lara. Nada especial, visto que tem um do outro lado do rio aqui em frente de casa. Mas queriamos ir ao Aquadom, um elevador dentro de um tubo gigantesco que é um aquário. Pra mim, foi o maior engodo e acho que não só pra mim, porque as pessoas que saiam do elevador não tinham cara de quem se divertiu. Saímos de lá e pegamos de novo o sightseeing tour. Passamos por vários pontos turísticos sem descer, daí as fotos embaçadas, tiradas de dentro do ônibus. Raramente vimos casas, pois Berlim foi completamente arrasada pela guerra e na sua reconstrução tinham que tirar proveito de espaço, material e dinheiro. Acho que por isso, tem muito predião e conjuntos habitacionais, principalmente em Berlim Oriental, onde o povo tinha que, supostamente, viver igualitariamente.
Descemos no Checkpoint Charlie, Amanzor e Lara foram para o hotel e eu fui para o Museu do Muro que conta a história do muro (dãã) e das tentativas e sucessos de fuga antes e depois da sua construção, uma mais louca do que a outra: de balão, por mergulho no rio Spree, por túnel, de roldanas, pulando de janela de prédio, atravessando os checkpoints dentro de porta-malas, malas e esconderijos em carros e as mais às vistas, simplesmente pernas pra que te quero, pulando as várias cercas de arame farpado e correndo o risco de ser alvejado e se ralando todo. Muito interessante, chocante e intrigante. Eu tenho uma curiosidade mórbida pra saber como era a vida na Alemanha Oriental e no tempo da guerra. Se eu acreditasse em vidas passadas, diria que vivi em Berlim naquela época, mas certamente não era ninguém com coragem suficiente para enfrentar os caras, nem era um dos caras, tenho certeza.
No domingo de Páscoa, depois de ajudar a Lara a encontrar os ovinhos que o coelhinho espalhou no quarto do hotel, fomos ao Zoo de Berlim ver o Knut. Ele está acabado, coitado. Pra mim, zoo é tudo igual e já comecei a ficar irritada porque eu queria ir até Potsdam ver o palácio Sanssouci. Pegamos o Strassenbahn - trem de superfície - com o bilhete do BWC e chegamos na cidade em 40 minutos.  Além dos palácios, Potsdam é famosa por sediar produções de filmes internacionais, tipo uma Hollywood européia. Fizemos um  sightseeing tour com hop off mas sem hop on, porque era o último, teríamos que voltar de ônibus, mas também sem  precisar pagar. Então, descemos no Palácio Sanssouci, mas pela hora os ingressos já estavam esgotados. Por sorte, ao retornarmos ao ponto de ônibus, conseguimos entrar numa ala do palácio que abriu ao público recentemente. Lindo, mas não pode tirar foto (claro, senão eles não vendem os postais,souvenirs e afins). A riqueza dos vários palácios da cidade, pertencentes ao rei da Prússia, Frederico, o Grande (pra mim, uma necessidade de compensar algo pequeno), é de matar de inveja. Conversando com a vigia, ela disse que o homem tinha mais de 30 palácios só no estado de Brandenburg. É mole? A época melhor pra se visitar os palácios e seus jardins é mais para fim de abril pois antes disso dá a impressão de que estão mal cuidados por só ter árvores peladas , pouco verde, nada de flores e nem todas as fontes estão ativas.  Potsdam é uma cidade pra se visitar com calma, talvez dois dias sejam suficientes, mas numa única tarde,...só podemos dizer que pusemos o pé lá. Ah, lá ficava um dos quartéis da KGB durante a guerra fria onde, dizem, John Le Carré, espião britânico e escritor (The spy who came in from the cold) ficou preso. Tem um bairro inteiro com casas russas  típicas da Sibéria. Tem também muitos holandeses e até uma área com arquitetura holandesa, pois Potsdam fica em uma ilha com um terreno bem parecido com o dos Países Baixos e muitos engenheiros holandeses daquele país  foram levados para desenvolver a cidade.
Retornando de Potsdam, o Amanzor e a Lara (de novo) foram para o hotel e eu fui bater perna. Fui até o Dom - a Catedral - mas estava tendo missa e não podia entrar. Ã? Eu, sinceramente, não entendi. O padre estava rezando pra quem? Peguei o sacratíssimo ônibus 100 e desci no Reichstag - sede do governo. Eram 19h10. Entrei na fila e só depois de duas horas em pé é que consegui entrar. Mas aí já estava de noite e um frio de rachar e não consegui ver muita coisa, além de ter medo de altura, o que veio a piorar as coisas. Tem certos passeios em Berlim que não dá pra se fazer em feriados. Este é um deles. Saí de lá e perdi o ônibus 100 (ele de novo). Resolvi andar a pé até o hotel, mais ou menos dois quilômetros, às dez da noite. Faria isso em SP? Nem pensar!
Na segunda-feira, nosso transfer nos pegaria às 15h30. Então, fomos até o Museu "The story of Berlin". Super. Adorei. Só me senti lograda (mea culpa, não me informei direito) pela visita ao Bunker. Achei que era da Segunda Guerra, mas na verdade é um abrigo contra ataque nuclear, inativo e ineficiente construído em 1974, durante a Guerra Fria. Nada funcionaria se tivesse que ser usado de verdade (ainda bem que nunca foi preciso, pois não acomodaria nem 1% da população). Como só existem quatro espalhados pela cidade, com capacidade para 3600 pessoas cada, com somente 4 banheiros e uma cozinha (ui), não sei o que seria pior: morrer imediatamente pela radiação ou lentamente em duas semanas sufocado pelo calor e fedor. Outro ponto interessante é o Trabant, o Volkswagen da Alemanha comunista. Este carro tem a carroceria de fibra plástica e para se ter um tinha que esperar uns 12 anos além de pagar por ele o equivalente a 20 salários mensais de um trabalhador qualificado. Lembro que quando trabalhava na Cultura Inglesa, tinha um professor que era alemão e que disse que quando o muro caiu, os alemães orientais vieram para as autobahns com os "Trabis" e causaram muitos acidentes, pois eles não tinham noção do que é velocidade, já que a velocidade máxima do carrinho era 120 km/h. Hoje é peça de museu e relíquia, além de se poder fazer um tour com ele por Berlim, que se chama "Trabi-safari".O resto da exposição é  muito bem montada, com sons, imagens,  e interatividade.

Corremos para o hotel e faltando cinco minutos para as 15h30, o motorista ligou falando que chegaria às 16h00. Chegou às 16h15 achando que o nosso aeroporto fosse o Tegel, que é o mais próximo, mas era o mais longe. Mesmo assim deu tempo. De novo: quem disse que alemão é pontual?
Não visitamos muitos dos lugares que gostaríamos: museus de arte e afins, palácios, shopping centers como o KaDeWe, monumentos, exposições, igrejas. Mas isso é um bom motivo pra voltar lá algum dia - no plural.

Aqui, as fotos de Berlin...da.

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